segunda-feira, 17 de maio de 2010

O silêncio

Sempre que ligamos o televisor, somos bombardeados com informação, ou temos os comerciais, ou os boletins informativos, através do seu mais que conhecido noticiário, ou através de documentários, temos os concursos, os filmes e as famosas novelas. Tudo debita informação e da mais variada que se possa imaginar.
Mas se pensarmos um pouco, em género de reflexão, o “sistema de informação” num espaço de 20 anos, foi revolucionado. Creio que desde que foi inventada a impressão no século XV por Gutenberg que não se assistia a uma revolução deste género: desenvolveu-se a Internet e com ela todo um novo mundo de possibilidades para várias áreas, criaram-se novos meios de comunicação como o telemóvel, agora há laptops, notepads, iphones, Ipads e por aí adiante. Mas lanço uma questão que me tem assolado nos últimos tempos: “Nós comunicamos?” Quando digo comunicar, digo-o naquele sistema que aprendemos na escola (Jacobson): Receptor - Emissor – Mensagem.
Não me refiro ao, eu crio um comercial que passa na televisão e logo depois as vendas aumentam, ou então daquela em que eu estou em frente a um monitor e alguém sabe-se lá bem outro também em frente a um monitor debita e troca palavras num qualquer chat, não estou a falar dessa comunicação, estou a falar daquela face a face.
Creio que já fiz uma abordagem a esse assunto em posts anteriores, mas este de facto é um tópico que mexe muito comigo, principalmente quando sou confrontada com as gerações anteriores à minha. Sinto isso quando vou num autocarro no final do dia de trabalho e ao meu lado se senta uma senhora com os seus 50 ou 60 anos e começa a puxar conversa, mas como vou cansada não me apetece falar, então aceno que sim ou não, ou debito meros monossílabos. Recordo-me por exemplo do meu avô que gostava de se sentar no pátio, de preferência com as pernas ao sol e começava a falar de tudo e de nada. Recordo-me de ter passado uma fase em que não percebia por que raio queria ele falar, mas também me recordo de como passou a ser importante para mim ouvi-lo falar do que viveu, porque essa vivência, esse conhecimento iria morrer com ele e essa é uma riqueza única. Depois penso o quão mal educada acabo por ser quando a senhora fala comigo no autocarro. Afinal de contas a senhora apenas quer comunicar, quer falar um pouco, distrair-se, abstrair-se, sair do isolamento que poderá encontrar quando chegar a casa. As gerações anteriores à minha não tinham televisão, quanto muito tinham rádio, ou telefonia como se dizia, não tinham acesso privilegiado à informação como acontece hoje em dia, pelo que a solução era falarem uns com os outros. Falava-se de tudo e de nada e quando nada havia a dizer, cantava-se, porque “quem canta seus males espanta” e muitas vezes era uma boa forma de esquecer a fome, os maus tratos, as dificuldades que a vida trazia no seu regaço.
Respeitavam-se as gerações anteriores, recebia-se de braços abertos o conhecimento que eles transmitiam. Não importava se era certo ou errado, simplesmente recebiam-no e depois transformavam-no, evoluindo ou regredindo, dependia sempre da forma como era usado o conhecimento. Mas falavam uns com os outros, juntavam-se em frente das casas, nas alpendoradas e estavam ali um pouco a falar e ouviam-se, porque “quando um burro fala o outro baixa as orelhas”.
Noto mais esta questão de facto quando estou com pessoas mais velhas, pois vê-se que as pessoas se sentem sós. Há pessoas melgas e chatas e chagas que não largam, são lapas, fazem-no porque, sei lá porquê. Mas há outras pessoas que pensam mais do que uma vez se nos devem ou não dirigir a palavra, mas a necessidade de falar deles é tão grande que correm esse risco, mas nós temos pressa e não falamos e essas pessoas recolhem-se ao seu silêncio forçado, porque na realidade “os novos” não sabem, mas acima de tudo, não querem falar.
O que fazemos? Escondemo-nos atrás de um monitor para dizer o que sentimos, escondemo-nos na pressa do dia a dia para justificar que na realidade o que se passa é que não sabemos comunicar.

domingo, 16 de maio de 2010

Modas

Vivemos na era da globalização, o que significa a grosso modo que todos vestem igual, comem igual, vivem igual, pensam igual. De repente a imagem que me veio à mente foi mesmo a do videoclip dos Pink Floyd, daquela famosíssima música deles “We don’t need no education”. Peço imensa desculpa, mas de facto não consigo decorar nomes de músicas, de qualquer modo, quem conhece, facilmente reconhece :)
Nesse vídeo basicamente demonstra a produção de seres que na realidade não são lá muito pensantes, ou usando uma nova gíria, são formatados de acordo com um determinado modelo, inventado sabe-se lá bem por quem.
Certo é que nem todos “aderem” à aldeia global, ou seja, não tens poder capital ou financeiro, não entras no grupo e por isso temos os chamados países desenvolvidos e os países de terceiro mundo, onde ainda se mantêm as tradições originais e bem antigas. Se bem que aqui também encontramos alguns paradoxos como é o caso da Índia, que mantém bem firmes e vivas as suas tradições, mas consegue ser uma potência mundial em algumas áreas, como a biotecnologia ou como a nanotecnologia.
Adiante, isto significa que nos dias de hoje, todos comem aqueles hambúrgueres famosos (lamento, mas acho aquilo simplesmente asqueroso), vestem a roupinha daquela marca de roupa, porque é bem e anda tudo com carrinho com design muito semelhante. Digo isto, porque é claro que os carros não são iguais, claro que não, passa tudo pela mesma forma, mas depois, fazem um canto mais arredondado, as jantes têm umas formas todas xpto, pronto, pentilhices que fazem a diferença, segundo as marcas que vendem estas viaturas.
Vivemos numa sociedade, onde e apesar da aparência ter sido sempre importante, principalmente nas classes mais altas, cada vez mais ocupa um lugar deveras preocupante e discriminatório. Esta era a classificação dada, porque assim como acontece hoje, podiam não ter onde cair mortos, mas tinham nome de família e isso já era suficiente. Hoje é suficiente aparecer em meia dúzia de revistas ou ir a meia dúzia de festas e já é a pessoa mais famosa do mundo. Por isso existe o “Jet 7” e a alta sociedade que de facto não se mistura com esta nova “estirpe” de classe social.
Mas adiante, hoje estamos numa sociedade do “é bem”, expressão bem portuguesa para exemplificar as escolhas das famílias e indivíduos nos dias que correm. É bem o menino ter aulas de piano, então vai para as aulas de piano. Não dinheiro para pagar as aulas?, faz-se um empréstimo! É bem a criança ir para o futebol, porque certamente vai dar um excelente “jogador da bola” e ganhar rios de dinheiro. A pobre criança não se ajeita nada com este jogo, até prefere atletismo, mas como não dá prestígio não serve, e é bem andar no futebol. É bem vestir a marca X, eu até posso não ter dinheiro, mas arranjo forma de vestir se não da mesma marca algo parecido. É bem frequentar uma escola, é bem usar um determinado tipo de sapatos. É bem comprar um carro tipo familiar. E é bem uma série de porras que nunca mais acabaria de mencionar. Com a merda do “é bem”, produz-se uma sociedade oca, que acredita piamente e cegamente naquilo que o marketing diz, e esta sim, foi uma extraordinária invenção e revolução que disparou com a geração yupie. Deixou-se de questionar, parou-se de planear, acabou a ponderação e isso assusta-me. Hoje em dia é um fenómeno encontrar alguém que consegue ter uma poupança, os miúdos se não têm uma mesada para destruir em tretas que não servem para nada, fazem uma birra descomunal e se lhes levantamos a voz e tentamos explicar que a vida não é ter tudo o que se quer no momento em que se quer e que é necessário lutar, trabalhar afincadamente para isso, estamos a traumatizar a criança, ou então incorremos no risco de cometer um crime e iniciamos um ciclo vicioso e vertiginosamente perigoso.
As modas parecem ser bonitas e engraçadas e tal e coisa, e eu também gosto da moda das caminhadas (apesar de não praticar), adoro a moda dos jeans e dos chinelos e das t-shirts (fã convicta), mas tenho noção de que estamos à beirinha do precipício. E enquanto andam todos entretidos com as modas e tal e coisa, há gajos que definem a moda dos administradores das empresas públicas, que ganham milhões em forma de bónus, ou administradores de bancos que vão à falência, mas graças à maravilha do divórcio não têm um cêntimo (taditos), define-se a moda dos estratagemas para as pessoas olharem para tudo, excepto para o verdadeiro estado das coisas.
A moda é gira, a aldeia global tem coisas maravilhosas, porque de facto tem aspectos simplesmente inebriantes de tão extraordinários que são. Imagine-se uma descoberta de uma nova cirurgia que permite o transplante de forma menos invasiva de órgão, ou de um gene que pode explicar a origem de uma determinada doença, em pouco tempo a informação é passada e permite que se avance na ciência e que se salvem milhares de vidas. A aldeia global também tem as suas virtudes, mas há que ter cuidado com os excessos e com os seus “malefícios” e o pessoal tem andado muito, mas mesmo muito distraído e isso preocupa, preocupa mesmo muito.