quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Rouxinol

A folia já passou, quem não teve oportunidade de ir a um dos recintos de foliões, sempre teve a televisão ou pelo menos os espaços noticiosos para mostrar um pouco do que foi o Carnaval por terras lusas e não só!!
Agora está na hora de regressar à dura realidade e ter mais cuidado com as críticas, porque a partir daqui levam a mal sim senhor!!!

Ontem passaram na TV um programa do Rouxinol Faduncho. Apenas tive oportunidade de saborear a última parte, contudo maravilhoso :)
E porquê esta introdução???? Não foi certamente pela forma simples mas brilhante de fazer crítica, pelo sotaque maravilha, mas sim pelo que me fez recordar. Peço desculpa, mas apenas posso recordar o passado, não é saudosismo exacerbado, nostalgia, “bater no ceguinho”, simplesmente só consigo recordar o passado, uma vez que o futuro apenas posso imaginar. Como diria uma prima minha, o dia de amanhã ainda ninguém o viu e se alguém já o fez é favor contactar-me para me relatar essa experiência e todo o processo que leva a ver o dia de amanhã. Portanto irei certamente fazer muitos recuos e avanços, tal máquina do tempo :)
Então como estava para contar, recuei até à secundária. Grande salto, mas também grandes momentos :) E aqui sim sinto alguma nostalgia pelo facto de nos divertirmos com simplicidade, de sermos mais sinceros do que somos agora, de arriscarmos mais, de nos mostrarmos contra o sistema, coisas da Geração Rasca, da qual me orgulho fazer parte. Não, nunca fui uma revolucionária, queria mesmo era passar despercebida, que ninguém me moesse o juízo, como continua a acontecer. Não provoco e quando me provocam, bem, o meu lado de "pescina" muito provavelmente vem ao de cima: coloco as mãos na cintura, abano-me toda, pergunto se há algum problema e se estiver mesmo irritada aquele som particular aqui da praia vem à toa. Há que encarar e mulher da praia tem destas coisas, não tem medo de ser quem é e eu tenho orgulho de ser quem sou.
Pois bem, não fui revolucionária, mas conheci a minha conta de revolucionários, fugi do baptismo a que os mais velhos nos sujeitavam, joguei à sueca (jogo proibido por causa das supostas apostas), via os meninos a jogar à bola e basquetebol. Gostava particularmente quando chegávamos ao verão pois eles tiravam a t-shirts, isso é que era alimento para a vista….. Hoje esses mesmos meninos, por mim, podem ficar com as t-shirts vestidas, enfim, o corpo denuncia o uso abusivo de bebidas alcoólicas, tipo cervejinha, a idade não perdoa…
Depois, o teatrinhos que faziam para as festas, os programas de rádio, que acabavam por ser mais para quem os produzia, porque o sistema de som era tão bom que não se percebia muita coisa. Convenhamos, a tecnologia não era o que hoje conhecemos e fazia-se mais esta coisa pela carolice e pelo gosto de se ser diferente. Mas do que percebíamos era o suficiente para nos divertirmos. Os teatrinhos eram do melhor. Recordo-me das imitações do Herman e do José Eduardo Moniz, as graças que se faziam, vamos lá a ver, olha “ele é mais bolos”:)
E as cartas de amor?? Coisinha mai linda!!! O que me diverti com aquelas cartas!! A autoria era quase 100% da minha colega. Neste “crime” eu só dava uns toques e aprimorava com a caligrafia. Parecíamos mesmo agentes, uma a verificar e certificar-se que ninguém vinha ou via, a outra desesperadamente à procura da mochila, daquele que na altura era só considerado o gajo mais bom da escola. Este personagem existe em todas as escolas e estimula a louca e animada imaginação das jovens, que tudo fazem para chamar a sua atenção. O desgraçado tinha o terrível hábito de colocar a mochila em pontos altos, o que nos obrigava a algum exercício físico. Utilizo o termo no plural porque estamos a falar de um trabalho de equipa e nós íamos alternando entre o posto de vigia e a colocação da mensagem (carta) na mochila do jeitoso.
Depois a parte da diversão. Numa primeira fase era a escrita da carta. Ainda hoje guardo todas as que levaram com a minha caligrafia e modéstia à parte eram lindas!!! Levei-as comigo numa viagem que fiz e por incrível que pareça serviram para me fazer pensar positivo:) reli-as e sempre que o fiz, senti-me bem, pois percebia que de facto, nada como a juventude para fazer aquilo que depois dos 20 temos medo de fazer: sorrir, arriscar e muitas vezes seguir em frente. Acho que na altura escrevi uma da minha autoria, em que nas entrelinhas estavam uma série de mensagens e pensamentos que a olho nu eram difíceis de decifrar. Foi giro voltar a escrever daquele modo.
Depois da escrita das ditas cartas, de colocá-las na morada (mochila) do rapaz maravilha, apenas tínhamos que esperar que ele abrisse a mochila encontrasse a carta e que saboreasse aquelas doces palavras. Como foi lindo!!!
Escrevo e ao mesmo tempo visualizo a cena, como se de um filme se tratasse:)
Ali estava ele, com os seus colegas mais chegados a subir a escadas e a ler a carta. Nunca poderíamos ter imaginado que aquelas cartas iriam suscitar tal interesse naquele rapaz e, muito menos, que ele fosse mostrá-las aos colegas. Depois era vê-los a rirem das coisas que estavam escritas e a tentarem descobrir quem teria tido a ousadia de escrever aquelas palavras. Nós, em ânsias, a pensar que íamos ser desmascaradas, o que teria sido um calvário, porque teríamos de ouvir os seus comentários ad eternum. Felizmente, o alvo só descobriu de quem era a autoria das cartas por nós, o que também teve uma reacção interessante, eu por exemplo fiquei com a nódoa negra, a minha colega com o alvo:)
Não voltei a escrever a outro aquele tipo de carta que tinha sempre um início fabuloso e uma despedida cordial:) Não teve a nada a ver com a nódoa negra, mas desde então mais ninguém me inspirou daquele modo.
Este foi igualmente um período produtivo na minha escrita. Foi aqui que nasceram as minhas “divagações”, através daquilo que chamei prosa em meia linha. Coisa estranha? Nem por isso. Ensinam na escola toda uma série de regras sobre a poesia relacionadas com a métrica dos versos, as rimas e por aí além. A minha prosa em meia linha é isso mesmo, pois não respeita qualquer tipo de métrica e não rima. Simplesmente em vez de fazer texto “corrido”, fui dividindo o texto. Certo é que poucos dos que leram os meus textos diziam que de facto era poesia!? Estamos a falar de pessoas com 16, 17 na altura, pelo que já dá para ver a credibilidade, de qualquer modo assim mantive os textos, assim os tenho passado para pc e o mais engraçado é que num só texto consigo encontrar várias formas de ler e várias interpretações, que se perderiam caso estivessem em prosa. Parece estranho, talvez bizarro, mas é mesmo assim. Um dia destes vou ao baú das memórias e transponho um dos textos para a blogosfera.
Após este período tão fértil em momentos tão sui generis a veia artística acalmou e quase extinguiu. Já não me lembro da última vez que fiz uma prosa em meia linha e o número de textos também diminuiu drasticamente, de qualquer modo não é muito preocupante, uma vez que não dependo financeiramente da escrita, e, ainda bem porque em Portugal estaria tramada!!!
E tudo isto porquê? Por causa do Rouxinol, esse ganda maluco que tem uns cães lindos, mas lindos!!

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