terça-feira, 2 de novembro de 2010

Relações

Inicialmente o título deste post era para ser “Casamentos”, mas isso seria mais um post de alguns anos atrás. Temos de nos adaptar às novas realidades e as realidades conjugais neste momento são diferentes e já não passam apenas e simplesmente pela “instituição” do casamento.
Mas indo ao que interessa!! Eu e esta mania de estar ali que tempos à volta do assunto, deixando outras opiniões que nada têm a ver com o que quero falar e depois esqueço-me do objectivo inicial do post, que é basicamente o que está a acontecer agora e como tal estou a tentar “encher chouriços” esperando que volte a inspiração que me fez ligar o computador para falar das relações. Aviso desde já que falarei sempre em casamento, subentendendo-se daí todo e qualquer tipo de relação a dois.
Ando um pouco abalada com as pressões sociais que de repente se abateram sobre mim, e que, diga-se de passagem, estão a afectar esta frágil mioleira.
Isto leva a que faça uma daquelas loucas introspecções e pense no significado das coisas. Acabo sempre por dizer, ou neste caso, escrever o óbvio, que é: o ser humano é um ser gregário, não tem muito o hábito de viver sozinho. Aliás, basta ver o número de eremitas para perceber isso e como tal perceber que é natural cada um de nós gostar de ter companhia. Instituiu-se, sabe-se lá bem como e não, não vou investigar porque não tenho pachorra para isso e não, não vou procurar na net, porque nem tudo o que lá está tem a idoneidade que se gostaria, mas dizia, instituiu-se que deveríamos, ou dava mais jeito vivermos aos pares. Há sempre culturas que divergem um pouco e, no caso dos homens é-lhes permitido deambularem por aí e terem uma porrada de mulheres que por pressuposto lhes devem dar uma porrada de filhos. Regra geral são relacionamentos a dois. Depois criou-se o cinema e com ele nasceu aquela coisa muito famosa que é a empresa de Hollywood e que enche a cabeça das senhoras que todas as relações são um sonho, que existem príncipes encantados e que os homens são todos charmosos e merdas afins e que, independentemente de tudo o que possa acontecer, acaba tudo com muito amor e carinho.
Pois bem, vamos lá desmistificar esta treta:
1- A vida não é amor e uma cabana;
2- Os homens não são todos um sonho (tomara muitos chegarem a homens);
3- As relações não são um mar de rosas;
4- Consequentemente as relações têm altos e baixos;
5- Qualquer relação que se preze exige esforços e cedências;
6- Podia continuar a falar disto, mas vou só destrinçar os pontos acima mencionados pois será o suficiente.
Lá porque os filmes querem impingir às adolescentes, e às maiorzinhas também, que é só estalar os dedos e o amor acontece (acho que isto é nome de filme, mas não sei dizer de outra forma), as coisas não são assim. O príncipe encantado faz parte do imaginário, o que temos pela frente são muitas vezes uma cambada de broncos que acham que só porque têm uns olhos lindos ou meia dúzia de músculos sobressaídos são alguma coisinha de jeito, mas basta abrir a boca e estragam logo a pintura. Também temos aqueles que se valem das suas notas de 500 euros para as terem aos pés, porque o que elas querem é segurança financeira e isso, aparentemente eles podem dar, o resto, bem o resto arranja-se por aí. Há pouca coisa que o dinheiro não compre.
Continuando o raciocínio, depois temos as discussões. Sim, discussões, elas existem e o ditado é muito, mas mesmo muito antigo: Casa que não é ralhada não é bem governada. E não estamos a falar daquelas discussões violentas, basta falar em conversas onde se discutem as opiniões, onde se dividem pensamentos, onde há discordâncias e é preciso chegar a um consenso. Todos temos as nossas características e quem está connosco não tem necessariamente de pensar o mesmo ou querer fazer o mesmo. Há atritos, há birrices, há simplesmente opiniões convergentes e divergentes. Infelizmente, a ideia que me passam é que basta uma opinião ser divergente e está a separar, já não se discute, não se conversa, porque tudo isso dá muito trabalho. É mais fácil separar, mandar pastar. E chegamos aos pontos 3, 4 e 5. Uma relação, como tudo na vida, não é um mar de rosas, é sim um filho da mãe de um espinhal que parece nunca mais ter fim, e onde de quando em vez brotam umas rosas lindíssimas, magníficas, tão magníficas que nos fazem perder o fôlego e é saber apreciar esses momentos tão únicos e tão belos que nos fazem continuar a suportar a porra dos espinhos, que nos ensinam a ceder ou a fazer finca pé quando necessário, que nos ensinam que só com algum esforço conseguimos algo verdadeiro, que suporta tempestades e aprecia as abertas do tempo. E depois, bem, depois, sabendo respeitar e sendo respeitado, ouvindo e falando, criam-se aquelas magníficas cumplicidades e por isso é que ainda hoje se vêem casais, daqueles com 50 e 60 anos de convivência que põem qualquer casal novo a um canto, tal é a sua cumplicidade, porque souberam aprender um com o outro, cedendo e fazendo por vezes esforços descomunais para que a relação sobrevivesse. A vida passa num ápice, assim como as coisas boas, e nós, com esta mania que sabemos tudo, deixamos escapar por entre os dedos. Depois exigimos dos outros, mas quem somos nós para exigir o que não conseguimos fazer?

sábado, 23 de outubro de 2010

Ainda o Ultramar

Estive a ler o meu último post. Quem ler isto pensa que não tenho mais nada para fazer, mas a realidade é que voltei a ler o que escrevi. Às vezes faço-o só para reflectir nos meus próprios pensamentos, naquilo que vou debitando, sem pensar grande coisa no que os outros pensam.
Mas não são as minhas introspecções o tema do post. Partilho, pelo menos durante um dia, ou parte dele, com todo um Batalhão, ou pelo menos os elementos do Batalhão que aparecem, as memórias de homens que estiveram no Ultramar e pela primeira vez, ouvi uma leitura para a razão de enviar tantos rapazes/homens para o Ultramar, irónica e de facto fabulosa. De tal forma fabulosa, que no início pensei que o assunto era outra. Então o Sr. L. exlicou o seguinte sobre a sua presença no território africano no início da década de 70 do século XX. Perdoem-me, mas continuo a esquecer-me que já estou no século XXI, estranha esta coisa de entranhar a mudança de século.
Mas voltando ao que interessa. Então, segundo o Sr. L. , o que se passou nesse ano de 1971, foi que os jovens que estavam a cumprir o seu serviço militar eram tão bem comportados que os seus superiores decidiram dar-lhes um prémio por bom comportamento. Assim, decidiram oferecer a estes jovens, algumas centenas de jovens, um período de 24 meses numa estância tropical. Mas não era uma estância tropical qualquer! Tinham direito a viver bem no meio da selva, com acesso a fruta tropical do mais variado que existia, com praia bem perto, água corrente e com safaris, tal não era a variedade de espécies animais. Essa estância tropical só tinha um grande defeito, fechavam as luzes às 23h00. quer dizer, quando eles poderiam ter um tempinho livre de toda aquela animação para jogarem umas cartas, desligavam as luzes. Passados os 24 meses e como de facto aquele era um grupo fantástico e bem comportado, vai daí que decidiram oferecer mais 2 meses naquele “paraíso”.
Aí está, como é óbvio, uma visão irónica, mordaz, de tudo aquilo que fizeram estes homens passar. Posso arriscar que é uma forma de lidar com algo inexplicável e que acabou por render umas boas gargalhadas, pela forma inovadora de “explicar “ o sucedido.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Ultramar

Nos últimos dias tem-se falado da Guerra Colonial ou Guerra do Ultramar por causa de afirmações proferidas por Lobo Antunes. Não é sobre isso que quero falar, até porque as pessoas têm o direito a ter a sua opinião sobre determinado assunto, uma visão particular sobre a mesma, até porque há muitas vivências e tão dispares dos homens/ rapazes que estiveram nas ex-colónias, a defender algo quem nem eles próprios sabiam ou percebiam o que era, porque a guerra, seja ela qual for ou onde for é sempre irracional, sempre injustificável, independentemente das desculpas dadas por quem quer que seja.
Na sequência do último post sobre a educação em Portugal, surpreende-me que apenas 36 anos após a revolução dos cravos, leia-se, após o 25 de Abril de 1974, há jovens neste país que simplesmente não sabem o que é o 25 de Abril, porque aconteceu, como se chegou a esta revolução, quem planeou e o que dela resultou. Como consequência também não sabem o que foi a Guerra Colonial ou do Ultramar, quantos morreram e ainda hoje morrem. Há quem acredite que num belo dia os locais decidiram expulsar os portugueses do seu território. Confronto bélico? Não? Isso é impensável, tomaram uma decisão e mandaram os portugueses embora. Mas houve confronto bélico, homens, mulheres e crianças, dos dois lados das trincheiras que levaram com balas em cima, morreram queimados, foram degolados, ficaram loucos, perderam casas, terras, roupas, vidas. Muitos refugiaram-se em Portugal, ou no que à época era chamada a Metrópole, outros ficaram, não conseguiram fugir ou não quiseram. Muitos foram deixados à sua sorte, seja de um lado ou do outro, porque a guerra não tem lados, quem sofre são sempre os mesmos. E o estado português continuou a mandar os jovens portugueses. Não a fina flor como acontecia na época da monarquia, mas todos aqueles que não podiam pagar para “livrar” à tropa e consequentemente à guerra. Como troca o que receberam? Muitos morreram, muitos perderam braços, pernas, olhos, ficaram presos a cadeiras de rodas, perderam o tino, mas nunca, nunca, jamais receberam o respeito de um país que os forçou a ir para uma guerra que não era a sua, que os obrigou a perder a sua juventude, que lhes tirou os amigos, os familiares e que agora nem olha para eles, não os reconhece, de tal modo que a juventude já nem sabe o que aconteceu em Portugal, Angola, Moçambique e Guiné.
Mas aconteceu, ainda há muitos homens que hoje, para além das marcas físicas, ainda acordam assustados porque o barulho de um foguete de uma qualquer festa os transporta para o local onde estavam aquartelados, recorda-os o som das bombas lançadas e regressam ao inferno. Há muitas famílias que continuam nas décadas de 60 ou 70 do século XX, porque os seus familiares não conseguem superar o que viveram, porque nunca tiveram apoio para superarem a guerra, porque nunca ninguém os levou a sério, porque sempre foram simples carne para canhão, não pessoas, não seres humanos que não queriam estar ali e ter de “matar ou morrer” como diz a canção. Ninguém pensa na ansiedade, na angústia, no horror, no medo, porque de um momento para o outro são atacados, envenenam-lhes a água, bombardeiam as casernas onde estão, queimam a zona em redor. E este é o lado dos portugueses, porque do lado de quem se queria libertar do jugo português também se passou o mesmo, porque também eles eram e são pessoas, humanos e também eles sofreram e sofrem. Oficialmente a guerra do Ultramar terminou em 1974, mas a realidade é que em 2010 ainda há muitos homens e respectivas famílias que em Portugal continuam a batalhar nessa mesma guerra e ninguém os ouve, ninguém os vê e a memória colectiva, vai apagando-os de forma despreocupada, porque já passou e importante são os espectáculos de pseudo-circo patrocinados pela política portuguesa, a mesma que mandou milhares de homens para um conflito bélico e depois esqueceu-se da sua existência.

domingo, 29 de agosto de 2010

Frustração educacional

Talvez seja apenas uma fase, mas sinto-me extremamente frustrada no que respeita ao sistema educativo deste país onde cresci, o que, para quem esteja com problemas em localizar-se geograficamente, é Portugal.
E porque me sinto frustrada? Tão simples quanto ter passado dias, meses e anos da minha estimada vida a queimar as pestanas, a obrigar os meus pais e a mim própria a um regime económico de bradar aos céus para ser possível adquirir os livros, restante material escolar, pagar o transporte público e alimentação relativos a mim e ao meu irmão, já que nunca tivemos direito a qualquer tipo de bolsa, e, uma das desculpas que me apresentaram para tal, já estava eu no sistema universitário, foi o facto dos meus pais serem os legítimos proprietários da sua habitação e do seu automóvel. Mas não é daí que advém a minha frustração, vem sim do facto de efectivamente ter dedicado tantas horas ao estudo, de ter passado anos a levantar-me às 6 da manhã para apanhar o autocarro para a escola e entrava em casa quase sempre às 8 da noite, isto num tempo em que os paizinhos não tinham como levar as criancinhas de carrinho à escola, porque é traumatizante saber quão dura a vida pode ser.
E queimei eu as pestanas para quê? Fizemos tantos sacrifícios para quê? Para agora em meia dúzia de meses tirar o 9º ano, noutros tantos o 12º ano ou então optar por outro ano meio num curso que é pago, não por quem frequenta, mas pelo próprio estado e acaba-se o 12º com uma profissão. Depois disto sou um legítimo candidato ao ensino superior. Mas antes do ensino superior posso optar um tirar um curso CET, que tem uma duração também de ano e meio e que me dá o equivalente ao nível IV, aquele que outrora equivalia a um bacharelato, o que significava 3 anos de árduo estudo após o secundário e a loucura dos concursos para acesso ao ensino superior.
Hoje basta um ano e meio com estágio incluído e voilá, nível IV. Para obter licenciatura tinha de estudar 4 ou 5 anos consoante o curso, hoje, na esmagadora maioria bastam 3 anos no ensino superior e já se é licenciado e com o bónus de poder tirar logo o mestrados em tem de recorrer aos métodos de selecção que existiam antes do Processo de Bolonha e que, para os desgraçados que se licenciaram antes da entrada em vigor deste sistema que por pressuposto põe todos em pé de igualdade, se mantém. Neste momento, elitista é apenas o doutoramento, mas não sabemos por quanto mais tempo!.
Estamos numa Europa de igualdades, de luta contra a discriminação, mas no que respeita ao ensino não estou a ver onde é que isso existe, afinal de contas, tudo o que é pré-Bolonha, não tem nenhuma mais valia por ter estuado tanto tempo, para ter um nível IV ou nível V, por se ter esmifrado para entrar num mestrado, mas é a sociedade que se tem.
Só falta mesmo uma criança que nasce em 2010, e quando tiver idade para entrar na escola, passar de imediato para o 12º ano.
De que serve saber ler, escrever, compreender, conhecer? Nada!! O que interessa são os números para fazer bonito na União Europeia. Estamos a criar iletrados, mas o que importa? Têm qualificações e isso é que é importante!
Ressalvas: Como em tudo, acabamos sempre por generalizar e infelizmente paga o justo pelo pecador. Sim, é verdade. Apesar de todo o facilitismo existente, e não me digam que isto não é facilitismo, porque é, há quem não tenha seguido os estudos porque efectivamente não tinha como. Mal tinham para comer ou vestir e, naqueles tempos, se não havia dinheiro para comida a solução era trabalhar, independentemente da tenra idade. Agora, essas pessoas que se especializaram nos seus postos de trabalho, podem ver esses anos de trabalho reconhecido, já que muitos empregadores não o fazem, e assim têm oportunidade de fazer o que no seu devido tempo e por via das circunstâncias não fizeram. Não deixa de ser frustrante, mas há que reconhecer quem de facto aprendeu e esforçou-se a quem não fez ou faz algum esforço para merecer tal benesse.
Às vezes pergunto-me: porque raio estudei tanto???? Digam lá se não é frustrante?
Estou mesmo em dia de cão!!!!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Acordo Ortográfico

Não me recordo de já ter escrito algum post sobre o, neste momento famosíssimo acordo ortográfico. Quer dizer, neste momento até que nem é muito famoso, uma vez que a comunicação social está muito mais preocupada em filmar cenas de incêndios para potenciar comportamentos pirómanos, esquecendo uma das regras básicas do jornalismo: comunicar FACTOS! E quando passamos a vida a mastigar no mesmo já não estamos a falar de factos, mas de novelas mediáticas.
Mas regressando ao tema, que por inacreditavelmente que pareça foi provocado por um artigo de opinião sobre o actual estado do país, ou seja, os incêndios.
Como iniciei, não creio ter falado aqui do acordo ortográfico, embora já o tenha discutido com alguns colegas meus.
Prezo a sua opinião, do mesmo modo que sei que eles respeitam a minha opinião e como tal não me esganaram quando assinei a petição para que o tal Acordo ortográfico não seguisse em frente e fosse colocado em prática. E porquê esta minha decisão? Por uma única razão: a língua evolui e deve ser alterada consoante a sua evolução, não por imposição legal.
Aprendi a escrever de uma forma específica, com regras gramaticais que tento aplicar, se bem que por vezes lá vêm algumas falhas, mas escrevo como aprendi e lamento mas não estou disposta a mudar. Aqui sou total e completamente contra a mudança, uma mudança que é forçada. Fazem-se, neste país, referendos que muitos questionam o seu porquê, estou a pensar no da regionalização, mas algo que afecta indubitavelmente a comunicação em Portugal, não se põe em questão, muda-se a lei e está a andar, querem, querem, se não querem comam menos!
Lamento mas acho absurdo e dou-vos o exemplo do tal artigo de opinião que estava a ler hoje e que começava do seguinte modo: “O espetador tem a sensação de estar …” Parei logo! O espetador tem a sensação???!!!! Espetador, de espeto, de espetar, como raio tem sensações? Podia de facto ser uma gralha ou engano, mas não, voltei a ler continuando a frase onde tinha parado e percebi: “O espetador tem a sensação de estar a ver sempre o mesmo jornalista, o mesmo bombeiro,….”
Não era espetador de espeto ou alguma palavra da mesma família, era espeCtador, de pessoa que assiste. E como esta existem outras pérolas como o fato e o facto, a expectativa e a expetativa. Quanto aos demais portugueses não sei, mas eu pronuncio estas consoantes, devo ser estranha, uma anormalidade neste país, mas mesmo que débeis as consoantes são pronunciadas e fazem efectivamente a diferença quando se escreve e quando tentamos comunicar.
Depois há o lado irónico, porque eu até tenho oportunidade de falar com brasileiros, a cujo país de origem vamos buscar estas alterações que algum idiota com uma diarreia cerebral considerou ser de extrema importância para as relações dos povos que falam português. Nem sei como até hoje temos conseguido comunicar, ou manter relações. Aliás, se não fosse o Acordo Ortográfico jamais nos poderíamos ver, falar, comunicar, negociar, visitar, era total e completamente impossível.
Mas adiante, o que eu queria dizer é que este Acordo tem data de implementação prevista, neste momento, para 2011. Prevista, porque já teve outras datas e esperemos que assim continue, com datas previstas, apesar de cada vez mais pessoas escreverem de acordo com este Acordo (perdoem a redundância), mesmo que em Portugal não exista um único documento oficial, como por exemplo uma gramática, com as regras que deverão ser adoptadas.
Mas voltando aos brasileiros. Lá por terras de Vera Cruz, há já algum tempo que são colocados no mercado livreiro trabalhos, como por exemplo gramáticas com as novas regras para que as pessoas comecem a implementar o tal Acordo Ortográfico. Eles têm trabalho feito, têm base escrita e aprovada pelos ministérios responsáveis, estão a tentar educar a sua população que é bem maior do que a do nosso país. Por aqui, é pá, muda-se a lei, impõem-se as regras e o comum dos mortais que se desenrasque, não fosse este o país do desenrascanço. Havíamos de ganhar um prémio Guiness ou um Nobel pela nossa destreza no desenrascanço.
Termino com desabafo, não só destroem a Língua Portuguesa, como nos deixam às aranhas, às cegas, sem dar hipótese de nos adaptarmos, porque a adaptação não é efectuada pela habituação à ideia de que vamos deixar de escrever em Português, a adaptação considera também a aprendizagem da nova língua e para tal precisamos de quem forme com eficácia e precisamos de material para aprendermos de forma efectiva. Porque o Manel lê um artigo e faz uma interpretação e Maria lê exactamente o mesmo artigo e faz uma interpretação completamente diferente e depois o Zé Povinho pergunta: e agora em que é que ficamos????
Decidam-se, ou é boi ou é vaca!!! Enquanto isso não acontece, venha lá uma sandocha de porco no espeto :)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Agosto

Depois da saída daquele belo filme português que retrata a vivência de muitos locais neste país durante as “vacances”, que agora por incrivelmente que pareça não me lembro do nome, qualquer coisa Meu querido mês de Agosto, ou Aquele mês de Agosto. Ai que vou ser trucidada pelos meus amigos cinéfilos, perdoem-me lá a falha e não, não vou procurar o nome correcto! Se quiserem, corrijam-me vocês mesmos.
Pronto, reiniciando, depois da saída lá do filme, nada melhor do que tentar reflectir o que é Portugal, hoje dia 9 de Agosto de 2010.
Pois bem, numa determinada habitação, hoje estará a comemorar-se o aniversário de um caríssimo amigo, com a família e amigos. Infelizmente e este já é o segundo ano em que não poderei estar presente :( é triste porque eram umas gargalhadas garantidas e tenho andado a sentir falta disso mesmo.
Depois, o país está basicamente a banhos, não só porque estão cá os emigrantes a visitar as famílias, como uma carrada de camones a pensar que somos mais uma província espanhola e depois porque com o calor que se faz sentir só mesmo dentro de água é que nos sentimos bem. Depois anda meia dúzia a trabalhar para os demais.
Como a temperatura não estava só por si suficientemente quente e como os parvos nascem espontaneamente, isto claro para não lhes chamar anormais, fdp’s e outras coisas que tais, andam meia dúzia de c***** a atear o país. Não estou a falar obviamente de declarações políticas, primeiro porque estamos em período de férias parlamentares, em segundo, porque declarações inflamadas só se forem de cólera, porque relacionadas com inteligência seriam um achado.
Mas voltando ao tópico, estamos rodeados de chamas. Pensava eu que o momento inicial da semana seria mesmo a vitória do FCP face ao SLB, porque neste país a única coisa sobre a qual parece ser importante falar é de futebol, a chama deste país :(, mas não, são mesmo as chamas, ou melhor labaredas provocadas pelos incêndios de norte ao centro do país. Zonas lindas, maravilhosas que estão a ser consumidas pelas chamas. Riquezas naturais que dificilmente se irão recuperar, bens patrimoniais perdidos, vidas humanas perdidas, homens e mulheres desgastados e a tentarem manter a força anímica para lutar contra este inferno criado por meia dúzia de gente que não tem nada que fazer. Se fossem agarrar num fósforo e queimar a ponta da gaita… de foles!!
Perdoem-me a crueza do discurso, mas é duro ver um país tão lindo lavrado por chamas, de verde passar a negro e cinza, de rico a pobre e tudo porque não há quem imponha multas pesadas a quem não limpa a floresta. É mais fácil multar quem circula nas estradas, compreendo, mas se multassem quem não limpa os seus terrenos ou os confiscasse, as coisas mudavam de figura e, pelo menos quem limpa não via o seu árduo trabalho a arder (literalmente), porque o vizinho do lado achou que não valia a pena fazer a limpeza, os animais não morriam encerrados nos currais, porque não houve tempo de soltá-los, os agricultores não perdiam anos de trabalho e os bombeiros não pereciam de forma tão cruel.
Mas não é só Portugal que arde, a Rússia não está melhor e aqui a força dos incêndios já levou bem mais do que por cá, na Alemanha, República Checa e Polónia, garantidamente dava-se alguma das águas que por ali caem a Portugal ou à Rússia, tal não é a dimensão das cheias, os Paquistaneses e os Chineses também não me parece que se opusessem a dar alguma da sua água para apagar os fogos, tal não é a dimensão das cheias. Com isto tudo não se fala da fome em África e já poucos se lembram da mancha de petróleo provocada por aquela famosa petrolífera que só se interessa em fazer graveto e está-se a cagar para os efeitos das suas acções nos próximos anos, e estou a pensar que a solução aplicada efectivamente não irá dar pró torto, caso contrário será o caos.
Bolas, tanta coisa se passa neste dia 9, dia em quando passam 65 anos sobre o lançamento da bomba atómica sobre Nagasaki no Japão.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O silêncio

Sempre que ligamos o televisor, somos bombardeados com informação, ou temos os comerciais, ou os boletins informativos, através do seu mais que conhecido noticiário, ou através de documentários, temos os concursos, os filmes e as famosas novelas. Tudo debita informação e da mais variada que se possa imaginar.
Mas se pensarmos um pouco, em género de reflexão, o “sistema de informação” num espaço de 20 anos, foi revolucionado. Creio que desde que foi inventada a impressão no século XV por Gutenberg que não se assistia a uma revolução deste género: desenvolveu-se a Internet e com ela todo um novo mundo de possibilidades para várias áreas, criaram-se novos meios de comunicação como o telemóvel, agora há laptops, notepads, iphones, Ipads e por aí adiante. Mas lanço uma questão que me tem assolado nos últimos tempos: “Nós comunicamos?” Quando digo comunicar, digo-o naquele sistema que aprendemos na escola (Jacobson): Receptor - Emissor – Mensagem.
Não me refiro ao, eu crio um comercial que passa na televisão e logo depois as vendas aumentam, ou então daquela em que eu estou em frente a um monitor e alguém sabe-se lá bem outro também em frente a um monitor debita e troca palavras num qualquer chat, não estou a falar dessa comunicação, estou a falar daquela face a face.
Creio que já fiz uma abordagem a esse assunto em posts anteriores, mas este de facto é um tópico que mexe muito comigo, principalmente quando sou confrontada com as gerações anteriores à minha. Sinto isso quando vou num autocarro no final do dia de trabalho e ao meu lado se senta uma senhora com os seus 50 ou 60 anos e começa a puxar conversa, mas como vou cansada não me apetece falar, então aceno que sim ou não, ou debito meros monossílabos. Recordo-me por exemplo do meu avô que gostava de se sentar no pátio, de preferência com as pernas ao sol e começava a falar de tudo e de nada. Recordo-me de ter passado uma fase em que não percebia por que raio queria ele falar, mas também me recordo de como passou a ser importante para mim ouvi-lo falar do que viveu, porque essa vivência, esse conhecimento iria morrer com ele e essa é uma riqueza única. Depois penso o quão mal educada acabo por ser quando a senhora fala comigo no autocarro. Afinal de contas a senhora apenas quer comunicar, quer falar um pouco, distrair-se, abstrair-se, sair do isolamento que poderá encontrar quando chegar a casa. As gerações anteriores à minha não tinham televisão, quanto muito tinham rádio, ou telefonia como se dizia, não tinham acesso privilegiado à informação como acontece hoje em dia, pelo que a solução era falarem uns com os outros. Falava-se de tudo e de nada e quando nada havia a dizer, cantava-se, porque “quem canta seus males espanta” e muitas vezes era uma boa forma de esquecer a fome, os maus tratos, as dificuldades que a vida trazia no seu regaço.
Respeitavam-se as gerações anteriores, recebia-se de braços abertos o conhecimento que eles transmitiam. Não importava se era certo ou errado, simplesmente recebiam-no e depois transformavam-no, evoluindo ou regredindo, dependia sempre da forma como era usado o conhecimento. Mas falavam uns com os outros, juntavam-se em frente das casas, nas alpendoradas e estavam ali um pouco a falar e ouviam-se, porque “quando um burro fala o outro baixa as orelhas”.
Noto mais esta questão de facto quando estou com pessoas mais velhas, pois vê-se que as pessoas se sentem sós. Há pessoas melgas e chatas e chagas que não largam, são lapas, fazem-no porque, sei lá porquê. Mas há outras pessoas que pensam mais do que uma vez se nos devem ou não dirigir a palavra, mas a necessidade de falar deles é tão grande que correm esse risco, mas nós temos pressa e não falamos e essas pessoas recolhem-se ao seu silêncio forçado, porque na realidade “os novos” não sabem, mas acima de tudo, não querem falar.
O que fazemos? Escondemo-nos atrás de um monitor para dizer o que sentimos, escondemo-nos na pressa do dia a dia para justificar que na realidade o que se passa é que não sabemos comunicar.

domingo, 16 de maio de 2010

Modas

Vivemos na era da globalização, o que significa a grosso modo que todos vestem igual, comem igual, vivem igual, pensam igual. De repente a imagem que me veio à mente foi mesmo a do videoclip dos Pink Floyd, daquela famosíssima música deles “We don’t need no education”. Peço imensa desculpa, mas de facto não consigo decorar nomes de músicas, de qualquer modo, quem conhece, facilmente reconhece :)
Nesse vídeo basicamente demonstra a produção de seres que na realidade não são lá muito pensantes, ou usando uma nova gíria, são formatados de acordo com um determinado modelo, inventado sabe-se lá bem por quem.
Certo é que nem todos “aderem” à aldeia global, ou seja, não tens poder capital ou financeiro, não entras no grupo e por isso temos os chamados países desenvolvidos e os países de terceiro mundo, onde ainda se mantêm as tradições originais e bem antigas. Se bem que aqui também encontramos alguns paradoxos como é o caso da Índia, que mantém bem firmes e vivas as suas tradições, mas consegue ser uma potência mundial em algumas áreas, como a biotecnologia ou como a nanotecnologia.
Adiante, isto significa que nos dias de hoje, todos comem aqueles hambúrgueres famosos (lamento, mas acho aquilo simplesmente asqueroso), vestem a roupinha daquela marca de roupa, porque é bem e anda tudo com carrinho com design muito semelhante. Digo isto, porque é claro que os carros não são iguais, claro que não, passa tudo pela mesma forma, mas depois, fazem um canto mais arredondado, as jantes têm umas formas todas xpto, pronto, pentilhices que fazem a diferença, segundo as marcas que vendem estas viaturas.
Vivemos numa sociedade, onde e apesar da aparência ter sido sempre importante, principalmente nas classes mais altas, cada vez mais ocupa um lugar deveras preocupante e discriminatório. Esta era a classificação dada, porque assim como acontece hoje, podiam não ter onde cair mortos, mas tinham nome de família e isso já era suficiente. Hoje é suficiente aparecer em meia dúzia de revistas ou ir a meia dúzia de festas e já é a pessoa mais famosa do mundo. Por isso existe o “Jet 7” e a alta sociedade que de facto não se mistura com esta nova “estirpe” de classe social.
Mas adiante, hoje estamos numa sociedade do “é bem”, expressão bem portuguesa para exemplificar as escolhas das famílias e indivíduos nos dias que correm. É bem o menino ter aulas de piano, então vai para as aulas de piano. Não dinheiro para pagar as aulas?, faz-se um empréstimo! É bem a criança ir para o futebol, porque certamente vai dar um excelente “jogador da bola” e ganhar rios de dinheiro. A pobre criança não se ajeita nada com este jogo, até prefere atletismo, mas como não dá prestígio não serve, e é bem andar no futebol. É bem vestir a marca X, eu até posso não ter dinheiro, mas arranjo forma de vestir se não da mesma marca algo parecido. É bem frequentar uma escola, é bem usar um determinado tipo de sapatos. É bem comprar um carro tipo familiar. E é bem uma série de porras que nunca mais acabaria de mencionar. Com a merda do “é bem”, produz-se uma sociedade oca, que acredita piamente e cegamente naquilo que o marketing diz, e esta sim, foi uma extraordinária invenção e revolução que disparou com a geração yupie. Deixou-se de questionar, parou-se de planear, acabou a ponderação e isso assusta-me. Hoje em dia é um fenómeno encontrar alguém que consegue ter uma poupança, os miúdos se não têm uma mesada para destruir em tretas que não servem para nada, fazem uma birra descomunal e se lhes levantamos a voz e tentamos explicar que a vida não é ter tudo o que se quer no momento em que se quer e que é necessário lutar, trabalhar afincadamente para isso, estamos a traumatizar a criança, ou então incorremos no risco de cometer um crime e iniciamos um ciclo vicioso e vertiginosamente perigoso.
As modas parecem ser bonitas e engraçadas e tal e coisa, e eu também gosto da moda das caminhadas (apesar de não praticar), adoro a moda dos jeans e dos chinelos e das t-shirts (fã convicta), mas tenho noção de que estamos à beirinha do precipício. E enquanto andam todos entretidos com as modas e tal e coisa, há gajos que definem a moda dos administradores das empresas públicas, que ganham milhões em forma de bónus, ou administradores de bancos que vão à falência, mas graças à maravilha do divórcio não têm um cêntimo (taditos), define-se a moda dos estratagemas para as pessoas olharem para tudo, excepto para o verdadeiro estado das coisas.
A moda é gira, a aldeia global tem coisas maravilhosas, porque de facto tem aspectos simplesmente inebriantes de tão extraordinários que são. Imagine-se uma descoberta de uma nova cirurgia que permite o transplante de forma menos invasiva de órgão, ou de um gene que pode explicar a origem de uma determinada doença, em pouco tempo a informação é passada e permite que se avance na ciência e que se salvem milhares de vidas. A aldeia global também tem as suas virtudes, mas há que ter cuidado com os excessos e com os seus “malefícios” e o pessoal tem andado muito, mas mesmo muito distraído e isso preocupa, preocupa mesmo muito.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Língua dos pês

Hopojepe espestapavapa eupeu apa oupouvirpir apa rápádipiopo quapandopo oupoçopo apa línpinguapua dospos pêspês epe aspas repecorpordapaçõespões vipieperampam àpá baipailapa.
Giro não é? Imaginem o quão divertido era falar esta língua, como se fala a nossa língua materna. Doida?! Não!!!! Era mesmo a língua dos pês, uma espécie de língua em código, muito usada aí na década de oitenta do século XX (ainda não me habituei à ideia de ter transitado de século). Era acima de tudo uma língua usada pelas raparigas para poderem falar à vontade sem que os outros, principalmente os rapazes, percebessem, até porque, regra geral, eram eles os motivos das conversas. Hoje quando no Portugalex, meteram o Presidente a falar esta língua foi simplesmente maravilhoso :)
Compreendo que para os mais jovens esta seja uma coisa completamente fora do normal e até nos poderão chamar doidos, mas o facto é que muita gente falava a língua dos pês e divertíamo-nos que nem doidos. Era o chamado processo de criatividade e capacidade de colocar em prática algo tão diferente, e tão único que acabou por unir toda uma geração :)
Mas como funcionava isto? Era muito simples, por cada sílaba proferida logo em seguida repetia-se, substituindo a primeira letra por um “p” ou então acrescentando o “p” quando a sílaba iniciava com uma vogal. Este era sem dúvida um óptimo método para aprender e desenvolver as competências na construção silábica das palavras. Não sei se hoje em dia ainda se aprende na escola a fazer esta divisão silábica das palavras, com a calinadas que ouvimos e com as constantes alterações do sistema educativo começo a ter dúvidas de que tal aconteça, pelo que esta será uma boa ferramenta para ensinar a língua portuguesa e toda a beleza da descoberta das palavras.
Quase dá vontade de agradecer ao pessoal que cria o Portugalex por esta pérola e pela reabilitação de um “jogo de código” que divertia quem o praticava e deixava com os cabelos em pé outros que não conseguiam perceber um puto :)

quarta-feira, 17 de março de 2010

Efémeros

A vida às vezes prega-nos algumas surpresas e a morte é uma delas. Todos sabemos que a morte é inevitável. Apesar de muitos continuarem a acreditar que é algo que só acontece aos outros, todos morreremos. Sem hora nem dia marcados ela virá e lá se acaba a nossa presença na terra. Presença essa que é efémera. Se pensarmos que a vida é feita de momentos, momentos esses que são efémeros, a nossa vida é também ela efémera, apenas um momento. Podemos apenas viver algumas horas ou até ultrapassar os 100 anos, a nossa vida não deixa de ser um momento. Acham que não? Então pensem lá, que idade tem a Terra? Pois é, somos uma gotinha, um pequeno momento, portanto somos efémeros, somos pequenos, muito pequenos mesmo. Pensamos que somos o centro do universo, mas a realidade é que o universo até estaria de melhor saúde não fosse o nosso exacerbado egocentrismo.
Assim, a máxima que diz, vivam cada minuto como se fosse o último, é válida e se pensarmos no global, em vez de pensarmos apenas no nosso umbigo faz sentido.
Não se esqueçam, daqui a um segundo podemos estar a dar um último suspiro.
Muito negro? Não sei, quando somos confrontados com a morte, ou pelo menos eu, quando confrontada com a morte, penso o que afinal é a vida, o que ando a fazer.
Quero mudar o mundo, mas acabo por me acomodar e volto a olhar apenas para o meu umbigo.
E não me chamem egoísta, estúpida e outros sinónimos ou afins, até porque sabem bem que não estou sozinha neste barco.
Isto está um pouco sem nexo, não está? Deixem lá, a vida também não tem nenhum nexo, portanto, fica tudo em família.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Mais uma amostra

14/10/1993

Não consigo pensar,
Muito menos raciocinar.
Talvez nunca o tenha feito.
Provavelmente nem sei o que é.
Limito-me.
E faço o que me foi ensinado.
Será que os que me ensinaram também sabem?
Não sei se penso ou raciocino.
Só sei que mesmo que o faça,
De momento estou impossibilitada.
E de cada vez que me lembro de ti,
Há um bloqueio.
Então só há tempo para pouco
Esse pouco que pode ser muito,
Que para muitos será nada
No entanto para mim,
De tanto que é,
Torna-se insuficiente.
É o avivar das recordações
Tudo porque já passou,
Contudo, ainda não morreu.
Resumindo:
Penso em ti!

Uma amostra

Agora que falei do início do Divagações e da forma como a M. declamava os “poemas” deixo aqui um desses meus textos:

23/12/1992

A noite
Propícia ao sonho,
À fantasia.
Mas eu medito,
Penso, questiono-me
Interpreto o meu mundo,
O mundo que me rodeia.
Noites de insónia
A necessidade de algo
Qualquer coisa que falta
Um espaço por preencher
Um espaço vazio
Não sei se será preenchido
A dor aumenta
A tristeza toma-me,
Domina-me
Tento resistir, mas não consigo
Porque há algo que não existe
Assim a noite é diferente.
Torna-se pesadelo, medo
Deito-me e choro
As lágrimas que não param
Que ninguém consegue parar
E o tempo que corre
Angústia que não tem fim
Tormento que não me deixa
Algo que tem de ser feito
Assim não vou conseguir viver.

Nasceu o Divagações

Há 3 anos e 1 mês atrás começou esta aventura de passar alguns pensamentos para a blogosfera em vez do meu livro de capa preta. Apercebo-me agora como o tempo passa rápido e como me parece que deixei de escrever com a frequência com que o fazia.
Mas não era sobre a frequência dos textos que queria falar, era mesmo do verdadeiro nascimento do Divagações. Começou lá bem longe em 1992, andava eu na secundária da Vieira, em plena adolescência, quando por brincadeira comecei a escrever uns pequenos “poemas”. Coloco a palavra poemas entre aspas pois na realidade não gosto de intitular de poemas esses meus textos. Sempre gostei mais de chamá-los prosa em meia linha. Quem lhes chamava poemas eram os meus colegas, tanto que a M. agarrava neles e conseguia declamá-los. Achava extraordinário o que ela fazia, pois eu que era a autora não conseguia dar-lhes aquela “pujança”.
É que eu quando escrevia estava a pensar em mais do que uma coisa e era possível fazer jogos entre as várias linhas, até porque a pontuação a isso o permitia. Em termos poéticos poderíamos dizer que são rimas brancas, mas na realidade para mim eram prosas.
Após escrever uma série de “prosas em meia linha” comecei a escrever pequenas prosas, vulgo texto :) Aí achei que seria uma boa ideia passar para um caderno as minhas ideias, para um dia mais tarde verificar a minha evolução na escrita, na forma de pensar e também para relembrar e sorrir :)
Assim, em 1993, o Divagações passou a constar num caderno A4 de capa preta. O nome esse surgir de um mero acaso, pensei apenas que deveria ter um título, mas o quê, uma vez que eram apenas divagações de juventude? Divagações, aí estava o nome :) Textos com maior ou menor frequência foram surgindo e como diria o F., esse caríssimo amigo italiano, escreve que está a sofrer e na altura em que nos cruzámos de facto eu escrevia com regularidade e sofria…
Finalmente a adesão ao espaço virtual, onde confesso, tenho estado um pouco ausente, mas os textos vão saindo com alguma cadência e assim espero manter, independentemente do vício criado por todas essas novas ferramentas, cada vez mais apuradas e com novas funcionalidades.
O loucas divagações (versão virtual) é uma colectânea de textos que vão surgindo com naturalidade, sem pressão de tempos, de temas, apenas submetido à minha vontade, aos meus humores e necessidade de expressar-me.
Aos seguidores, continuem desse lado, prometo que continuarei por aqui :)

quinta-feira, 4 de março de 2010

“Porque gostas de mim?”

No final da semana passada fui a uma livraria, como faço com alguma regularidade, simplesmente para ver as novidades ou para ver se algo mês inspira o suficiente para fazer nova aquisição.
Comecei, sei lá bem eu porquê na secção das crianças e logo ali um livro me chamou à atenção. O título era “Porque gostas de mim?”. Basicamente versava sobre o percurso de uma criança com o seu amigo, imaginário ou brinquedo, não me recordo, na busca da resposta para esta questão tão simples.
E agora sou eu que pergunto, será assim tão simples?
Fiquei a matutar nisto e pronto, vai daí, novo post :)
Se alguém se lembrou de fazer um livro sobre esta pergunta, é porque teve algum motivo, até porque escrever para crianças não é assim tão fácil quanto isso. Público exigente :)
Acredito que o autor, ou autora, isso não fixei, enfrentou essa questão e não soube responder na altura e isso leva a reflexão.
Se eu agora chegar perto de um colega, de um familiar e colocar esta questão, será que obtenho resposta?
Cá vai:
“Porque gostas de mim?”
Colocada assim dá que pensar não dá?
Os dias correm a tal velocidade que nem nos apercebemos de coisinhas que para muitos são tão importantes, esquecemo-nos, renunciamos ou pura e simplesmente ignoramos a área das emoções, dos sentimentos. Acima de tudo, chegámos a um tal nível de egocentrismo, da cultura do eu, que nos esquecemos do Outro, de quem está ao lado, de partilhar, de vivênciar em conjunto, mas vivênciar a sério, não é só estar porque sim, porque fica bem, porque é socialmente correcto. Alguma vez viram uma criança a fazer isso? Não, pois não? É que elas ainda não tiveram tempo de aprender essas manhas, mas rápido, rápido elas chegam lá, e, como se está a chegar à conclusão, muitas, transformam-se em “pequenos ditadores”.
Mas voltando à questão inicial e deixando um repto, conseguiriam responder a esta questão, vinda ela de qualquer pessoa? Que resposta dariam? Colocariam esta questão a alguém? Ter sentimentos, ter emoções é humano, faz parte do nosso mapa genético. Experimentem perguntar! Mal não faz e pode ser que se tenham reacções inesperadamente deliciosas.
Acabei de ter uma ideia fantásticas, ou não, irei utilizar uma das redes sociais tão em voga para colocar esta questão e ver quais as reacções.
Ora aqui está, rede social, mas virtual, porque a rede social presencial está cada vez menos presencial :(
Isto é também uma autocrítica :)
Já agora, acabei por comprar um livro com compilações de Agostinho da Silva, esse filósofo intemporal :)

Sapatos

Hoje um tema um pouco mais fútil, creio que o posso dizer assim de chofre, porque na realidade é de uma estupidez monumental. Pelo menos assim à primeira vista.
Quem me conhece sabe bem como não passo cavaco à moda. Pronto, sei lá é daquelas coisas que não me causa grande fascínio. Não fico de trombas se não tenho o último modelito, se não tenho um brinquedo informático ou outra engenhoca qualquer toda xpto, simplesmente passa-me ao lado. Mas como tenho por hábito dizer, lá poruqe não tenho, ou porque não me causa transtornos, ou não quero, não significa que não veja ou até que comente, o que será o caso.
Para nos localizarmos no tempo, estamos a 3 de Março do ano de 2010. Ontem terça-feira vinha eu ao “encontro” do meu veículo para mais um romântico regresso a casa :), quando passo por uma miúda com uns sapatos que me despertaram a atenção. Sim, é isso mesmo que estão a ler, olhei para uns sapatos. Já não é a primeira vez, desde que iniciou este Inverno que encontro exemplares do género, mas ontem por algum motivo olhei com mais atenção e decidi escrever um post sobre o assunto :)
Não vai sair nada de extraordinário, é certo, afinal estaremos a falar de uma tendência de moda, mas aquele género de sapato é fantástico! :) Não que os calçasse pois parecem incómodos como o raio, mas o conceito é engraçado :)
Pronto, directa ao assunto. Quando me deparo com aquele género de sapatos viajo no tempo. Sim, é isso mesmo, viajo:) Vou até onde? Até ao século XVIII. A primeira imagem que me veio à mente foi a corte do rei D. Luís XIV, o rei Sol, o absolutista francês, mas logo a seguir pensei, mas porque penso na corte francesa, quando poderia pensar na corte portuguesa? Não sei porque isso aconteceu, talvez influências cinematográficas, mas depois restringi-me ao que é nacional. Se repararem bem nas pinturas de D. João V, de D. José I ou até mesmo do Marquês de Pombal, verificam com alguma facilidade que eles usam sapatos com o mesmo design dos dias de hoje. Quer dizer, agora podemos tirar os laçarotes e berlicoques, a maioria não é feita de pele ou tecido, mas o desenho é em tudo semelhante.
Já repararam que só referi personagens masculinos? Não é que as damas não tivessem o mesmo modelo de calçado, mas com aqueles vestidos imensos não estavam tão magnificentemente expostos como os dos homens.
Vejam lá o que os criadores pesquisam e tentam actualizar. Neste caso foram os sapatos em voga no período absolutista :)
Aquele “salto alto”, a “dobra” junto ao artelho, a forma como acabam por afunilar, em tudo semelhantes. Será que mais alguém reparou nas semelhanças de estilo? :)
Eu não disse que era um tema estranho? Mas pronto, queria partilhar este meu pensamento e análise sobre o assunto. Ainda dizem que não se aprende nada com a História!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Pisca ou não pisca

Há coisas que por vezes me irritam solenemente o meu sistema nervoso :( A condução ordinária de muitos é uma delas.
Não é que eu seja uma barra ao volante, qual Michael Schumacher e sus muchacos, mas tenho noção de uma coisa que creio ser fundamental: não ando sozinha na estrada. Isto significa que tenho noção de que se levo os máximos ligados e surge alguém no sentido contrário, devo passar a médios, se estou numa rotunda tenho de saber qual a prioridade, se estou num cruzamento sem semáforos tenho de dar prioridade à direita, se tenho um STOP ou um sinal de cedência de prioridade tenho de respeitar os sinais (estes e todos os outros) e finalmente, se quero virar para algum sítio, se quero sair de uma faixa onde tenho de ceder prioridade devo indicar que quero sair dali, usando uma coisa fantástica que é o pisca.
Sei que estamos em crise, sei que estamos muito sedentários, mas arre gaita, não me digam que é assim tão difícil pôr o pisca a funcionar. Qualquer dia, até podemos apenas proferir as palavras: Pisca direita ou Pisca Esquerda e o carrito faz isso automaticamente, mas por enquanto é um simples toque numa manete. Mas não!! isso dá uma trabalheira, é uma canseira que não dá! Uma pessoa perde milhões de calorias para simplesmente meter o pisca e indicar para onde quer virar, informando os outros condutores das suas intenções.
Acredito que seja difícil compreender que nem todos tenham o dom da telepatia, percebendo quais as nossas atitudes nos próximos minutos, enfim, nem todos somos assim tão afortunados, pelo que avisar fica sempre bem.
E aqueles marmelos que querem sair da esquerda para a direita (faixa onde regra geral vamos com o pedal da direita ligeiramente mais a fundo), fazem-no sem informar com o respectivo pisca e a uma velocidade que apenas colocaria um caracol em estado de êxtase, porque aos restantes deixa em quase estado de loucura?!! Sim, porque mesmo vindo a 70km/h num local de 90km/h, verificar que um caramelo nos “corta” a estrada, sem fazer pisca e a uma velocidade de 40km/h, não creio que haja alguém que chame santo ao otário que tem esta atitude.
Enfim, dá para ver que isto me irrita, principalmente porque se verifica que há muita inconsciência neste país e depois queixam-se que bateu, que provocou acidente em cadeia, feridos e tal, tudo porque para alguns anormais é uma tarefa descomunal e atentatória do bom senso meter a merda do pisca!!!
Será que nunca lhes ensinaram onde está localizado o pisca? Ou como funciona, ou para que serve??? Será possível?
O pensamento bem tuga: o outro que espere, o outro que veja, resulta muitas vezes na morte das pessoas. Mas pronto, qual é o stress? Não é ninguém da minha família, não fui eu! Mas a verdade é que se tivessem capacidade de respeitar os outros e de perceber que não são os únicos na estrada e que um dia o azar lhes pode bater à porta, certamente não teríamos tantos “toques”, tantos acidentes, tantos mortos.
As estradas podem ser uma grande porcaria, que o são, mas quem anda nelas deveria começar a pensar que não anda sozinho e que o gajo de trás não tem de saber o que se passa na cabeça dos demais condutores, até porque já tem mais com que se preocupar, como por exemplo não cair em nenhuma cratera daquelas que as nossas estradas tanto acarinham!
Quase dá vontade de iniciar o movimento pelo pisca, mas depois teria de iniciar movimento por muitas mais coisas...
Surgiu-me agora uma ideia fantástica: quando se fazem os anúncios de venda de automóveis incluir a seguinte frase: equipado com piscas!
Ou então, um tipo quer virar para esquerda ou para direita e mais uma vez esquece que o seu automóvel vem equipadinho com um belo conjunto de piscas e automaticamente surge aquela extraordinária pérola da música portuguesa: "ele olha para a esquerda e pisca pisca, olha para a direita e pisca pisca"!!
Hã, que tal?