quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Acordo Ortográfico

Não me recordo de já ter escrito algum post sobre o, neste momento famosíssimo acordo ortográfico. Quer dizer, neste momento até que nem é muito famoso, uma vez que a comunicação social está muito mais preocupada em filmar cenas de incêndios para potenciar comportamentos pirómanos, esquecendo uma das regras básicas do jornalismo: comunicar FACTOS! E quando passamos a vida a mastigar no mesmo já não estamos a falar de factos, mas de novelas mediáticas.
Mas regressando ao tema, que por inacreditavelmente que pareça foi provocado por um artigo de opinião sobre o actual estado do país, ou seja, os incêndios.
Como iniciei, não creio ter falado aqui do acordo ortográfico, embora já o tenha discutido com alguns colegas meus.
Prezo a sua opinião, do mesmo modo que sei que eles respeitam a minha opinião e como tal não me esganaram quando assinei a petição para que o tal Acordo ortográfico não seguisse em frente e fosse colocado em prática. E porquê esta minha decisão? Por uma única razão: a língua evolui e deve ser alterada consoante a sua evolução, não por imposição legal.
Aprendi a escrever de uma forma específica, com regras gramaticais que tento aplicar, se bem que por vezes lá vêm algumas falhas, mas escrevo como aprendi e lamento mas não estou disposta a mudar. Aqui sou total e completamente contra a mudança, uma mudança que é forçada. Fazem-se, neste país, referendos que muitos questionam o seu porquê, estou a pensar no da regionalização, mas algo que afecta indubitavelmente a comunicação em Portugal, não se põe em questão, muda-se a lei e está a andar, querem, querem, se não querem comam menos!
Lamento mas acho absurdo e dou-vos o exemplo do tal artigo de opinião que estava a ler hoje e que começava do seguinte modo: “O espetador tem a sensação de estar …” Parei logo! O espetador tem a sensação???!!!! Espetador, de espeto, de espetar, como raio tem sensações? Podia de facto ser uma gralha ou engano, mas não, voltei a ler continuando a frase onde tinha parado e percebi: “O espetador tem a sensação de estar a ver sempre o mesmo jornalista, o mesmo bombeiro,….”
Não era espetador de espeto ou alguma palavra da mesma família, era espeCtador, de pessoa que assiste. E como esta existem outras pérolas como o fato e o facto, a expectativa e a expetativa. Quanto aos demais portugueses não sei, mas eu pronuncio estas consoantes, devo ser estranha, uma anormalidade neste país, mas mesmo que débeis as consoantes são pronunciadas e fazem efectivamente a diferença quando se escreve e quando tentamos comunicar.
Depois há o lado irónico, porque eu até tenho oportunidade de falar com brasileiros, a cujo país de origem vamos buscar estas alterações que algum idiota com uma diarreia cerebral considerou ser de extrema importância para as relações dos povos que falam português. Nem sei como até hoje temos conseguido comunicar, ou manter relações. Aliás, se não fosse o Acordo Ortográfico jamais nos poderíamos ver, falar, comunicar, negociar, visitar, era total e completamente impossível.
Mas adiante, o que eu queria dizer é que este Acordo tem data de implementação prevista, neste momento, para 2011. Prevista, porque já teve outras datas e esperemos que assim continue, com datas previstas, apesar de cada vez mais pessoas escreverem de acordo com este Acordo (perdoem a redundância), mesmo que em Portugal não exista um único documento oficial, como por exemplo uma gramática, com as regras que deverão ser adoptadas.
Mas voltando aos brasileiros. Lá por terras de Vera Cruz, há já algum tempo que são colocados no mercado livreiro trabalhos, como por exemplo gramáticas com as novas regras para que as pessoas comecem a implementar o tal Acordo Ortográfico. Eles têm trabalho feito, têm base escrita e aprovada pelos ministérios responsáveis, estão a tentar educar a sua população que é bem maior do que a do nosso país. Por aqui, é pá, muda-se a lei, impõem-se as regras e o comum dos mortais que se desenrasque, não fosse este o país do desenrascanço. Havíamos de ganhar um prémio Guiness ou um Nobel pela nossa destreza no desenrascanço.
Termino com desabafo, não só destroem a Língua Portuguesa, como nos deixam às aranhas, às cegas, sem dar hipótese de nos adaptarmos, porque a adaptação não é efectuada pela habituação à ideia de que vamos deixar de escrever em Português, a adaptação considera também a aprendizagem da nova língua e para tal precisamos de quem forme com eficácia e precisamos de material para aprendermos de forma efectiva. Porque o Manel lê um artigo e faz uma interpretação e Maria lê exactamente o mesmo artigo e faz uma interpretação completamente diferente e depois o Zé Povinho pergunta: e agora em que é que ficamos????
Decidam-se, ou é boi ou é vaca!!! Enquanto isso não acontece, venha lá uma sandocha de porco no espeto :)

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