domingo, 29 de agosto de 2010

Frustração educacional

Talvez seja apenas uma fase, mas sinto-me extremamente frustrada no que respeita ao sistema educativo deste país onde cresci, o que, para quem esteja com problemas em localizar-se geograficamente, é Portugal.
E porque me sinto frustrada? Tão simples quanto ter passado dias, meses e anos da minha estimada vida a queimar as pestanas, a obrigar os meus pais e a mim própria a um regime económico de bradar aos céus para ser possível adquirir os livros, restante material escolar, pagar o transporte público e alimentação relativos a mim e ao meu irmão, já que nunca tivemos direito a qualquer tipo de bolsa, e, uma das desculpas que me apresentaram para tal, já estava eu no sistema universitário, foi o facto dos meus pais serem os legítimos proprietários da sua habitação e do seu automóvel. Mas não é daí que advém a minha frustração, vem sim do facto de efectivamente ter dedicado tantas horas ao estudo, de ter passado anos a levantar-me às 6 da manhã para apanhar o autocarro para a escola e entrava em casa quase sempre às 8 da noite, isto num tempo em que os paizinhos não tinham como levar as criancinhas de carrinho à escola, porque é traumatizante saber quão dura a vida pode ser.
E queimei eu as pestanas para quê? Fizemos tantos sacrifícios para quê? Para agora em meia dúzia de meses tirar o 9º ano, noutros tantos o 12º ano ou então optar por outro ano meio num curso que é pago, não por quem frequenta, mas pelo próprio estado e acaba-se o 12º com uma profissão. Depois disto sou um legítimo candidato ao ensino superior. Mas antes do ensino superior posso optar um tirar um curso CET, que tem uma duração também de ano e meio e que me dá o equivalente ao nível IV, aquele que outrora equivalia a um bacharelato, o que significava 3 anos de árduo estudo após o secundário e a loucura dos concursos para acesso ao ensino superior.
Hoje basta um ano e meio com estágio incluído e voilá, nível IV. Para obter licenciatura tinha de estudar 4 ou 5 anos consoante o curso, hoje, na esmagadora maioria bastam 3 anos no ensino superior e já se é licenciado e com o bónus de poder tirar logo o mestrados em tem de recorrer aos métodos de selecção que existiam antes do Processo de Bolonha e que, para os desgraçados que se licenciaram antes da entrada em vigor deste sistema que por pressuposto põe todos em pé de igualdade, se mantém. Neste momento, elitista é apenas o doutoramento, mas não sabemos por quanto mais tempo!.
Estamos numa Europa de igualdades, de luta contra a discriminação, mas no que respeita ao ensino não estou a ver onde é que isso existe, afinal de contas, tudo o que é pré-Bolonha, não tem nenhuma mais valia por ter estuado tanto tempo, para ter um nível IV ou nível V, por se ter esmifrado para entrar num mestrado, mas é a sociedade que se tem.
Só falta mesmo uma criança que nasce em 2010, e quando tiver idade para entrar na escola, passar de imediato para o 12º ano.
De que serve saber ler, escrever, compreender, conhecer? Nada!! O que interessa são os números para fazer bonito na União Europeia. Estamos a criar iletrados, mas o que importa? Têm qualificações e isso é que é importante!
Ressalvas: Como em tudo, acabamos sempre por generalizar e infelizmente paga o justo pelo pecador. Sim, é verdade. Apesar de todo o facilitismo existente, e não me digam que isto não é facilitismo, porque é, há quem não tenha seguido os estudos porque efectivamente não tinha como. Mal tinham para comer ou vestir e, naqueles tempos, se não havia dinheiro para comida a solução era trabalhar, independentemente da tenra idade. Agora, essas pessoas que se especializaram nos seus postos de trabalho, podem ver esses anos de trabalho reconhecido, já que muitos empregadores não o fazem, e assim têm oportunidade de fazer o que no seu devido tempo e por via das circunstâncias não fizeram. Não deixa de ser frustrante, mas há que reconhecer quem de facto aprendeu e esforçou-se a quem não fez ou faz algum esforço para merecer tal benesse.
Às vezes pergunto-me: porque raio estudei tanto???? Digam lá se não é frustrante?
Estou mesmo em dia de cão!!!!

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