segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sentidos

Sinto necessidade de escrever, mas não sei bem o quê, é mesmo aquela sensação de agarrar numa caneta e deixá-la percorrer as linhas do caderno preto, debitando palavras simples mas cheias de sentido. Nada surge e deixo ficar o caderno bem aqui ao lado para o caso de surgir alguma ideia luminosa, nos entretantos vou teclando :)
Acordei bem cedinho pronta para mais um dia. Será que devo dizer pronta?
Acordei estremunhada com o som do despertador e confirmo pela claridade que invade o meu quarto que já é manhã. Estico-me, volto à posição fetal, volto a esticar-me na esperança de que todos os músculos correspondam à ordem desse músculo principal: Alvorada!!! Está a mexer!!!
Permito-me deixar-me ali alguns segundos a ouvir os sons dos passaritos que decidiram construir o seu lar a uns escassos dois metros da minha janela. Finalmente as pálpebras reagem e toda a minha estrutura corresponde, levanto-me e dirijo-me à casa de banho. Hoje, coisa extraordinária, olho-me ao espelho e fico ali uma imensidão de tempo a contemplar aquele ser que está reflectido naquela peça de mobiliário. Tento reconhecer-me, tarefa complicada, é da manhã, só pode ser! Sacudo a cabeça na esperança de acordar, mas pareço hipnotizada por aquela imagem. Raios! Embora, vá! Debaixo de água! Nada melhor para acordar que sentir as gotas a caírem no corpo de forma continuada e compassada. Umas esborracham-se e seguem o seu percurso ao longo do corpo, qual ribeiro irrompendo por novos percursos, outras subdividem-se e caem aqui e ali, gotas roliças que se irão juntar às outras que continuam o seu percurso, aquele que sigo de forma atenta e eis senão quando também me apercebo das formas do meu corpo. Recordo-me daquele momento em que olhavas ostensivamente para o meu peito tentando, talvez, adivinhar as formas que aquele pedaço de tecido não te permitia ver. Escapou-se-me um sorriso maroto! Vá lá, então? Que fazes? Ai, gaita! Dou-me conta que ao tentar aumentar o caudal daquela água mágica que massajava as minhas costas enganei-me e de um momento para o outro sinto a verdadeira frescura da água gelada! Acordei definitivamente, está a despachar, não há tempo para continuar neste deleite.
Sigo para o pequeno almoço reforçado e preparo-me para o que virá a seguir. Uma boa caminhada até ao destino e aproveito para sentir os cheiros da manhã. Alguém que regou o quintal, as palhas secas deixadas na terra, as flores que exalam o seu particular perfume, e agora, uiiiii, alguém que anda certamente a fertilizar as terras. Que pivete!!! Chego e preparo os ouvidos para uma música que não é bem do meu agrado, mas que terei de suportar. São só mais uma horas! O tempo passa e o estômago começa a queixar-se, primeiro discretamente, depois, como não lhe dei qualquer atenção, faz-se ouvir. Não dá para fingir que nada se passa. Mais uma caminhada de passos bem largos acompanhada por pequenas rajadas que dão à minha estranha cabeleira formas ainda mais estranhas e por movimentos que faço com a cabeça na vã tentativa de escapar aos ataques dos pequenos moscos que andam por aí e que hoje, particularmente, parecem apostados em atingir este franzino corpo humano. Cheguei, preparo legumes e um pedaço de carne picada. Apetece-me algo diferente e confecciono um belo ratatouille, acompanho com arroz em branco e carne picada, tudo acompanhado de um suave vinho tinto. Que prazer este de transformar os alimentos sem regras a cumprir, deixando-me levar pelos odores da cozedura e permitindo-me saborear com tranquilidade este simples manjar.
Toca o telemóvel! Caraças, sempre à hora da refeição. Não vou! Hoje não! E deixo-me apreciar o que tenho à minha frente no silêncio que é possível.
Ligo o computador, os minutos voam, as horas não se sentem e termino o dia, aconchegada pelos sons da noite.

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