quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Emigrantes e imigrantes

Portugal e os portugueses desde sempre tiveram uma particular adoração por tudo o que vem de fora, por isso mesmo, mantemos este raio de baixa auto-estima nacional e esquecemo-nos de valorizar o que é nosso e como tal não criamos oportunidades para crescer e dar cartas nas mais variadas áreas empresariais, científicas e afins, como em tempos aconteceu. Mas em tempos muito idos, por isso é muito normal que muitos não se lembrem ou pensem que é fantasia, mas de facto já demos cartas em muitas áreas, como a diplomática, as ciências, as matemáticas entre outras :) . Assim, o que nos resta? Sair do país! Uma prática também ela com grande história no nosso país. E lá vamos nós de malas aviadas para um destino que não é de férias, para realizar investigação que não pode ser feita em Portugal, porque não há financiamento ou equipamento para tal, ou então vamos tentar a sorte no sentido de ganhar mais uns cobres do que em Portugal. Este sempre foi o principal motivo de saída do país, ganhar um pouco mais do que em Portugal. Então saímos do país em busca de melhores condições para ter uma velhice mais sossegada. E o que vamos fazer para os países que nos acolhem? Tudo o que houver para fazer, qualquer coisa, desde que dê para ganhar mais uns cobres e assim, vemos muitas pessoas a limpar casas de banho, empregados domésticos, a serem porteiros de casas, a trabalhar na construção civil. São trabalhos honestos e honrados, mas sabe-se lá porquê, em Portugal (estou a falar da questão territorial), as pessoas desdenham dessas profissões, de tal modo que quando deixámos de ser um país “exportador” de mão de obra e passámos a receber cidadãos de outros países, a primeira coisa que se fez foi deixar de desempenhar essas tarefas. Não consigo perceber de facto, porque raio é que em Portugal não só se desprezam tanto tarefas e profissões que os nossos emigrantes desempenharam e ainda hoje realizam nos países que os acolhem a ponto de se negarem a realizá-las. Ainda para mais quando muitos gritam alto e bom som que os imigrantes só vieram roubar o trabalho aos portugueses! Então, mas não são os portugueses que não querem realizar essas tarefas, desempenhar essas profissões? Já se esqueceram que eles estão a fazer exactamente a mesma coisa que nós fizemos em tempos idos, quando fomos nós quem saiu para procurar melhores condições, nem que para isso tivéssemos de fazer o que os outros não queriam? Os imigrantes apenas estão a tentar a sorte num país com menos condições que o nosso. Eu sei que parece difícil haver algum país pior que o nosso, mas acreditem, existem muitos países por aí com condições bem piores do que as nossas e essas pessoas que querem procurar melhores condições têm tanto direito a fazê-lo quanto nós o fizemos e continuamos a fazer. Está certo que com a imigração começaram a notar-se e a sentir-se algumas situações que antes passavam despercebidas, como o aumento da criminalidade, aspectos que não eram muito focados pela comunicação social e que têm sido mais visados com esta situação conjuntural a nível sócio-económico. Mas não pensem que foram os imigrantes que trouxeram a criminalidade, ela já existia, assim como existia em França, na Alemanha ou outros países para onde os portugueses emigraram e também eles foram alvo das críticas sociais e responsabilizados por todos os males dos países de acolhimento. Compreendo que a situação económica é má, que muitos estão desempregados, que cada vez mais custa chegar ao fim do mês, excepto claro está para a classe política e para os cada vez mais ricos, é duro, e o mais fácil é culpar quem consideramos “estranho”, mas eles, os imigrantes também têm as suas dificuldades, a crise não lhes passa ao lado, o serem olhados de lado também não, a vida para eles é tão ou mais dura do que a nossa, afinal não estão no seu país. Não estou a responsabilizar ou a desresponsabilizar ninguém por coisa alguma, mas assim como há portugueses bons também os há maus, assim como em qualquer povo, em qualquer nação, temos o bom, o mau e o péssimo, é uma questão de pertencermos à espécie humana, não a um local geográfico específico. Estamos todos a lutar pelo mesmo: a nossa sobrevivência. Uns emigram, outros imigram!

Sem comentários: